quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Igreja Evangélica [fundamentalista] = Inimiga!*



A Igreja Evangélica [fundamentalista] não é nossa amiga, é declaradamente nossa inimiga, lutando como pode contra nossos direitos e nossos valores como cidadãos e seres humanos.
   A negação dos valores da vida é a pregação radical da Igreja Evangélica [fundamentalista]. Seu discurso em relação aos LGBTs é um discurso de morte e opressão. Nos consideram endemoninhados, pervertidos, pedófilos.
   Certa vez ouvi uma “missionária” [fundamentalista], famosa em todo Brasil, num debate numa grande rádio evangélica do Rio de Janeiro dizendo que os homossexuais querem dominar o mundo, que nós queremos criar uma sociedade de andrógenos, e que começamos por dominar o mercado da moda, para assim acabar com a diferença entre “macho” e “fêmea” e, desta forma, dominar o mundo.

   Outro famoso pastor [fundamentalista] diz abertamente em seus programas de TV que os gays assim o são, pois, foram abusados na sua infância por homens mais velhos e que, por isso, são pedófilos. Essas são uma das poucas barbaridades que somos obrigados a ouvir ou assistir em programas de televisão e rádio, que são concessões públicas e que estão sendo tomadas por esse crescente segmento da sociedade.

   Os deputados evangélicos [fundamentalistas] são os responsáveis pelo engavetamento ou pela paralisação de projetos que visam minimizar os efeitos da homofobia, projetos reconhecidamente importantes para a educação da população quanto aos efeitos nocivos do preconceito contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
   A taxa de suicídio entre jovens gays evangélicos é sete vezes maior do que entre os que não são evangélicos.



   A Igreja Evangélica [fundamentalista] não é amiga da Igreja Inclusiva, é nossa perseguidora, nossa maior inimiga. O deus adorado lá não pode ser de forma alguma o Deus adorado aqui. O deus de lá é o que mantém a sociedade como está, desestruturando as famílias dos LGBTs, fazendo com que os pais de lésbicas, gays e transgêneros os expulsem de seus lares, marginalizando-os do convívio familiar. O deus de lá é o deus que consente com a morte violenta de um homossexual a cada dois dias em território brasileiro. O deus de lá é aquele que aplaude a morte de lésbicas, gays e transgêneros. O deus de lá tem as mãos manchadas de sangue em toda sua história, assassino de negros, índios, ciganos, e nós lésbicas, gays e transgêneros, entre tantas outras minorias.

   Igreja Inclusiva e Igreja Evangélica [fundamentalista] nada têm a ver. A Igreja Evangélica [fundamentalista] é a perpetuação dos valores de morte, da ignorância e do desamor. Niilista, como diria Nietzchie, nega a realidade da vida, em troca de uma realidade ilusória, de mundo fantástico, onde não há famílias homossexuais dentro de sua realidade, onde não há lésbicas, gays e transgêneros em seu círculo.

   Igreja Evangélica [fundamentalista] é a perpetuação da mentira, da hipocrisia. Perpetuação do Mal, sim com “M” maiúsculo.
   Cada vez que a alma de um excluído tomba ao chão, vítima da falta de amor e do preconceito, incentivados descaradamente pela Igreja Evangélica [fundamentalista], temos de lamentar pelo monstro que ela se tornou. Pagã, idólatra, mesquinha e egoísta, não pode ser a Igreja que Jesus profetizou que teria amor entre os que a formavam; não, não é.

   Vendida para a política e pelos políticos, estabelecida nos círculos de poder deste mundo, de forma alguma pode ser o amável rebanho de Cristo, mas sim a Grande Meretriz apocalíptica, que bebe do sangue dos santos de Jesus, e da exploração deles sobrevive.

   Mantenedora de morte e não de vida, da mentira e não da verdade, da ignorância e não da ciência, ela cresce nesse país.
    Para quê rede hospitalar adequada e preparada para atender a todos? Não precisa, é só colocar a mão sobre o seu caroço que o missionário vai orar! Para quê estudar, se preparar, prestar vestibular? Não, não precisa, o apóstolo vai orar, você vai ficar setenta dias em jejum, ao fim dos quais, se tornará milionário. Para quê a vida, se na morte vai ser tudo melhor? ... Não há necessidade de se melhorar as condições de vida das crianças na Baixada Fluminense ou no Nordeste do Brasil, esta vida não presta!

    E assim, negando a vida, pregando a morte, casando-se com os poderes de morte deste mundo, deste país, instalados nos círculos de poder, ela cresce. Mancomunada com Brasília ela cresce!
    Igreja, será que Jesus te encontrará quando da sua vinda?

   O mais terrível disso tudo é o que algumas igrejas ditas inclusivas empreenderam, copiando em tudo o modelo evangélico [fundamentalista]. É uma afronta chamar a tais de “inclusivas”, é uma piada das de péssimo humor.
   Igreja Inclusiva não repete o modelo de morte da Igreja Evangélica [fundamentalista], Igreja Inclusiva não exclui, não fere, não multiplica o modelo do status quo da Igreja Evangélica [fundamentalista] vendida. Igreja Inclusiva não obra o mal, pois está atenta para a pregação da libertação dos círculos de morte e preconceito. Igreja Inclusiva não pode ter projeto de heteronormatização dos que a formam e não pode rezar na cartilha dos adoradores da Bíblia. Não, isso não é Igreja Inclusiva, mas uma cópia muito mal feita da mesma.


   O modelo de Igreja Evangélica [fundamentalista], seja ele qual for, não serve para nós. Esse modelo, como sempre digo, só serve para alimentar o fogo e o refugo, lugar onde os mantenedores da mesma, e da morte e da opressão geradas por ela, passarão a eternidade, pagando pelas suas atrocidades e pelo sangue derramado das vítimas inocentes, o sangue dos santos mártires, lésbicas, gays e transgêneros, que pertencem a Jesus.
   Igreja Evangélica [fundamentalista], Jesus te vomitou! E nós, seguindo o seu exemplo, damos descarga no refugo que você se tornou!

Enjoado com tanta sujeira,

Diác. Luiz Gustavo,
servo.

*Atendendo a pedidos de muitos amigos evangélicos não-fundamentalistas inclui no texto, em 06/04/2012 a palavra [fundamentalista], para demarcar o local exato de onde provém os ataques e o ódio contra os LGBTs. 

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Deus Transgênero




26. Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão”.
27. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem (macho) e mulher (fêmea) ele os criou.
28. E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão”.




Gênesis 1:26-28, Bíblia da CNBB

Este trecho transcrito acima é parte de um dos dois relatos da criação contidos no nosso atual livro de Gênesis. Infelizmente a Igreja evangélica, com sua política de emburrecimento do povo, tenta ocultar a realidade sobre a história e as origens das Escrituras, fazendo parecer que elas cairam dos céus prontinhas, com encadernação e tudo. Mas, como Igreja Inclusiva, não podemos repetir o modelo de igreja que nos oprime e que emburrece, pelo contrário, esse modelo nós lançamos no lixo, que é o lugar ideal para todo tipo de porcaria e imundícia.

Mas, voltando ao assunto proposto, Gênesis 1:26-28 é original das Fontes Sacerdotais, ou Fontes "S", diferentes das do outro relato da criação, aquele onde Deus cria a mulher de uma costela do homem (Gênesis 2:7, 18, 21-23); primeiro criando o homem, depois a mulher. Este segundo relato é originário de fontes javistas, ou Fontes "J". Os relatos foram condensados ou agrupados como um livro único muito tempo depois da escrita original (Séculos VI-V a.C), se é que na realidade existiu uma escrita original. Pois, hoje é amplo o debate que afirma que dentro das Fontes Originais ("J", "E" e "S"), há inúmeras outras fontes primitivas e cujas origens talvez jamais serão conhecidas.

Eu sou apaixonado pelo primeiro relato da criação, incomparavelmente mais que pelo segundo. Nele consigo observar um Deus que não faz distinção entre homem e mulher, e que os cria no mesmo momento, sem primazia entre os dois. Não há preeminência no primeiro relato. Mas, o maravilhoso não é somente isso, mas também a revelação de que "macho e fêmea os criou, à sua imagem os criou" (vers. 26). No outro relato é o homem, e somente ele, a imagem de Deus, e não a mulher (conf. 1 Co. 11:7-9 e a pseudo epístola paulina de 1 Tm 2:13).



Sim, o Deus que os antigos hebreus criam era um "homem", antropomórfico, pois o segundo relato da criação (de origem "J") prevaleceu em detrimento da beleza do primeiro relato. Neste, além de não haver primazia, Deus se revela muito mais belo em sua essência como "Homem e Mulher", "macho e fêmea", no mesmo ser, revelando a unicidade e o amor que não se divide, mas que permanece Uno, indiviso, mesmo em Sua face materna e paterna.

Como teria sido maravilhoso que a imagem prevalescente entre os hebreus e depois entre os cristãos fosse desse Deus Transgênero, que é ao mesmo tempo "macho" e "fêmea", e de cuja imagem nasceram os humanos. Tenho certeza que menos fogueiras teriam sido acesas na Idade Média para queimar mulheres e homossexuais. Menos mulheres teriam sido violentadas e destituídas de sua dignidade e ao menos alguns homossexuais ou transgêneros teriam suas vidas poupadas pela Igreja ou pela sinagoga judaica. Se o "deus" dos religiosos tivesse sido muito mais Mãe do que Pai, ou ao menos tanto Mãe quanto Pai, a história no ocidente teria sido outra.



Pelo menos se tivessem castrado a imagem construída do deus judaico-cristão teríamos tido muito menos sofrimento ao longo da história, sinto eu. O falo é o grande mau que os religiosos imputaram ao Deus de amor, violentado-o em sua natureza que transcende o sexo, que está acima dele.

Eu pessoalmente quero essa imagem do Deus de Abraão, a imagem de um Deus Transgênero. O Mito do primeiro relato me revela muito mais do amor de Deus do que o segundo relato mitológico. Um Deus sem pênis, ou ao menos com "pênis" e "vagina" ao mesmo tempo, é muito mais equilibrado e amoroso.

A falta de um Deus maternal fez os cristãos sentirem falta de uma "mãe", e dá pra explicar amadoramente o porque de terem tomado para si o amor das deusas-mães na pessoa da Virgem Bendita. Coube à serva Maria o papel que era de Deus nessa história toda. Dá pra entender o porque da paixão dos católicos pela pessoa da mãe do Senhor.
Mas não precisava ser assim. Não precisamos de uma "mãe" fora de Deus. Nele encontramos Mãe e Pai (meros eufemismos e atropomorfismos, sim, creio eu), pois foi assim que ele quis se revelar para a nossa mente limitada. O próprio Verbo, Jesus Cristo, deu o exemplo disso, comparando-se à galinha que ampara os pintinhos em seu cuidado materno (Lc. 13:34) e realizando atribuições femininas, como lavar os pés dos discípulos (João 13).

Um Deus Transgênero em sua Imagem, ou ao menos um Deus menos "macho" e mais "fêmea" nos revelam muito mais do Seu Amor do que o Deus fálico e patriarcal que venceu na história da igreja, uma história de tirania, opressão e morte.

Da próxima vez que você olhar para um transgênero, tente não o condenar (coisa comum inclusive entre os próprios homossexuais), mas observe a face de Deus nestas pessoas. Pois, tais pessoas, assim como Deus, superaram os limites e definições dos sexos. Isso não importa mais, nem para eles, nem para Deus, que é, ao mesmo tempo, "macho e fêmea". (Gn 1.27)




Luiz Gustavo.
servo.