terça-feira, 26 de abril de 2011

O DEUS DO POSSÍVEL - Por André Sena



“Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (Epístola de São Paulo aos Filipenses, 4:12-13)

Uma dos mais belos aspectos de uma expressão religiosa[1] é a mística envolvida na vivência litúrgica. Não se enganem: há sempre uma liturgia, mesmo nos cultos de adoração de tipo extravagante que caracterizam a maioria das igrejas neo-pentecostais/neo-inclusivas. Dizer-se “livre de liturgia” ao acusar igrejas de vocação mais tradicional de “litúrgicas” só pode denunciar três situações: ou o acusador não sabe nem superficialmente o que significa liturgia; ou sabe e maliciosamente atrela a questão litúrgica a um tradicionalismo do qual jura não fazer parte; ou por absoluta má fé esquizóide, as duas coisas!

A liturgia vivida em sua plenitude escapa do campo simplesmente metafórico das récitas e prédicas que a compõem, promovendo no sujeito uma conexão serena e ao mesmo tempo avivada com o Sagrado. No caso do cristianismo, a liturgia assume uma importância extraordinária que pode e deve ser levada a sua radicalidade, chegando ao que conhecemos como a mística da fé. Rudolf Otto em sua obra “O Sagrado” nos ajuda a compreender isso a partir da noção de misterium tremendum, i.e., o Sragado em Mistério, mais que ainda assim conhecemos ao experimentá-lo.

Entretanto, a grande questão que atravessa muitas igrejas (e me refiro especialmente a esta caleidoscópica seara “protestante”, especialmente em sua versão pentecostal) é o misticismo que toma aos poucos o lugar da mística. Vejamos se consigo ser mais claro.

Há algum tempo atrás eu fazia um curso com um teólogo que muito admiro, Oswaldo Ribeiro, de quem destaco um belíssimo texto sobre a República de Judá a partir das visões do profeta Zacarias[2]. Oswaldo começou seu curso demonstrando sua apreensão diante do que considera uma “onda de misticismo barato que vai arrastando todo mundo”. Confesso que naquela época, ao ouvir isso, imediatamente pensei no poema Último Credo, de Augusto dos Anjos que diz:

Como ama o homem adúltero o adultério / E o ébrio uma garrafa tóxica de rum / Amo ao coveiro – esse ladrão comum / que arrasta agente pro cemitério!

O uso tóxico da mística, que pode ser chamado de misticismo[3] leva a falência do pensamento, a morte do simbólico e principalmente, como um remédio de tarja preta, poderá causar (e na maioria das vezes causa) dependência. Uma dessas noções “misticistas” que mais me assustam é a emulação do deus do impossível, termo que invadiu em cheio os altares crivélicos, macedianos, malafaicos e hernândicos, (dentre muitos outros genéricos de tarja preta igualmente tóxicos) e que destes vem transbordando para o mundo cristão espiritualmente lúcido, cada vez mais impotente, mas ainda assim resistente.


Repare que há uma significativa diferença entre uma narrativa litúrgica de um Deus que se revela como o Todo Poderoso, aquele que tudo pode, precisamente por ser o Totalmente Outro como sugere o teólogo-gênio Karl Barth. No mundo do Totalmente Outro não há impossibilidades! O terreno do limite, da impossibilidade e do falho é a esfera do humano, ao menos para a teologia e espiritualidade cristã. Portanto o epíteto do Criador não pode ser deus do impossível, cabendo-lhe um título realmente digno de sua Majestade: o Deus do Possível, aquele que permite o campo das possibilidades, que viabiliza nossos projetos, e ouve nossas orações.

O culto ao deus do impossível conduz, sem que percebamos, ao delírio alienante de não perceber o mundo ao nosso redor, nos seqüestrando de nossa realidade que pode e precisa ser transformada. Deliramos ao desejarmos limusines cujo aluguel custam 7.000 reais por dia, apartamentos de luxo, e muito, muito dinheiro. Afinal nosso deus é o deus do impossível. E assistimos estarrecidos e maniacamente excitados o testemunho do mendigo que hoje mora em uma cobertura do prédio diante do qual esmolou por 20 anos. Trabalho do deus do impossível, logicamente!

Uma vida estável em termos financeiros é algo que todos desejamos. Mas quando este projeto passa a ser um dogma teológico, dois fenômenos se produzem: uma comunidade religiosa neurastênica em busca do Eldorado e que se esquece que suas conquistas nesta vida implicam primeiramente em existir e olhar ao redor; e finalmente um pensamento alienante e perverso que secciona o Sagrado do mundo. (ainda vou escrever um texto sobre essa expressão evanglouca que diz, dedo em riste: “fulano não se converteu! É “do mundo”!)

O Deus do cristianismo que vivo na Comunidade Betel/ICM, é o Deus do Possível, o que é radicalmente diferente de um Deus de meras possibilidades. Ao contrário: adoro e exalto um Deus que preenche nossa realidade com possibilidades. E mais: um Deus que se faz presente em todas as possibilidades que encontro em minha vida. Nosso Deus está vivo, não na alucinação perversa que o deus do impossível promove; mas na vida que se constrói como milagre a cada dia, vida caótica e saudável, lúcida e fantasiosa, tranqüila e estressante, bonita e feia e em tudo isso, vitoriosa! Vida possível, no seio do Deus do Possível, justamente por saber que não há nada impossível para Deus.



Visite o nosso site: www.betelrj.com

 André Sena

[1] Não confundir com o termo “religião” tal como vem sendo abordado criticamente nos dias de hoje por muito teólogos.

[2] Ver em: http://www.oracula.com.br/numeros/022006/artigos/Artigo%20-%20Osvaldo%20Luiz%20Ribeiro.pdf

[3] Vale aqui ressaltar que uso de forma particular o termo misticismo, sem nenhum agravo aos movimentos místicos, exotéricos ou esotéricos de qualquer natureza, que também podem, em outro contexto serem denominados por este termo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

CURA-SE A AIDS!


Minha crítica ao movimento neo-inclusivo me levou aos tribunais. Não somente a mim, mas também o Leandro Rosetti e o Rev. Márcio Retamero, autores deste Blog. Quiseram nos calar, com a desculpa da calúnia, da difamação e de uma pseudo tentativa de cercear a liberdade de culto religioso. Tudo falácia! O processo foi encerrado, arquivado por falta de motivos válidos para prosseguir.

Teve gente vestindo a carapuça da deturpação do Evangelho, o da Inclusão, das doutrinas de multiplicação da desonestidade, do acúmulo ilícito do capital, alheio, claro!

Não podemos nos calar, como grita o Evangelho. Calar é concordar com a balbúrdia e com a exploração e alienação do outro. E o Evangelho de Jesus nos chama para ser sal, luz e libertação nas vidas dos que perecem.

Acusam-nos de fazer uma falsa apologética, baseada na inveja do crescimento, ou inchamento, das neo-igrejas e seus pseudo-evangelhos. Tola acusação! Não dá pra invejar, como crentes em Cristo Jesus, o que é a negação dos valores da vida, a negação da existência e a alienação do mundo. Pois, sabemos, Cristo nos chamou para plantar os pés no mundo e não para nos perdermos na mística da mentira.

Ontem, no compartilhar comungado de vinhos, petiscos e papos, no santuário de vida da Lapa, me chega a notícia. Notícia esta que encheu meus olhos de lágrima, não de alegria, mas de profunda tristeza.

Sim, é isso mesmo, tem igreja neo-inclusiva na cidade do Rio de Janeiro prometendo curar o HIV, prometendo curar, “pela fé”, os soropositivos.

Agora, imaginam a quantidade de pessoas que podem ser frustradas com essas loucas promessas?! Quanta gente que pode se perder para sempre por conta deste evangelho de faz-de-contas! E quanta gente mais pode vir a se contaminar com o HIV, por acreditar nessas promessas irresponsáveis e insanas!

É triste, lamentável saber de tanta deturpação e mentira por conta de um desejo egoísta de fama, sucesso e acumulação. É triste saber que lugares que poderiam estar restaurando vidas, trazendo-as de volta à dignidade, estão egoisticamente pregando a ilusão religiosa e o desligamento da realidade da vida.

AIDS não tem cura! Como crentes em Cristo devemos falar a verdade, e esta é a verdade. A cura da AIDS depende do empenho e da responsabilidade de cada um de nós. Depende da prevenção, da luta contra a desinformação e o preconceito.

Antes de se prometer cura milagrosa para uma doença crônica como o HIV seria melhorar promover a cura emocional e espiritual dos portadores da doença, que podem e devem viver dignamente suas vidas, para a honra e glória do seu Senhor.

Iludir pessoas fragilizadas, machucadas com as chagas sociais da AIDS, em troca de meia hora de poder, de “autoridade espiritual”, e de quinze minutos de fama em programas de TV popularescos, terá um custo. E esta conta será cobrada pelo Senhor, Justo Juiz, que não se deixa escarnecer e não deixa que se escarneça de seus pequeninos.

Promessas como estas são uma afronta à clarificação do entendimento. São um dos motivos para que confundam Igrejas Inclusivas sérias com modelos deturpados das mesmas. Para que coloquem no mesmo saco de confusões os libertadores e os escravizadores, os que pregam a moral e a ética de Cristo e os falso-moralistas, os que pregam a verdade e os que pregam a ilusão alienante.

Este texto também é um alerta ao Movimento Homossexual Brasileiro. Para que permaneça atento aos desditos e à falta de informação gerados por grupos fundamentalistas que carregam de alguma forma o arco-íris como bandeira. Isso não pode permanecer assim!

Difícil escrever, mas há de se escrever, pois, o silêncio há de ser cobrado, como omissão e falta de amor. Ainda que haja ameaças, ainda que sejamos arrastados aos tribunais e perante os magistrados, não nos calaremos! Pois não há ninguém mais pra clamar, somos as próprias pedras que clamam (Lc 19:40), e clamam não por uma reforma, mas por uma revolução na história da Igreja de Jesus Cristo.



Assim profetizo!



Diác. Luiz Gustavo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

É isso o que a gente quer dizer com HOMOFOBIA

Amigas e Amigos,

Tá difícil compreender!

O debate se polariza, grupos libertários e direitistas entram em choque de opinião. O deputado vocifera barbaridades em rede nacional, milhares de pessoas aplaudem o parlamentar, outras protestam nas ruas.

E você, em meio à crise ética que se instalou na Câmara dos Deputados, admite que o preconceito de fato existe no país, mas não/jamais/nunca é proveniente de você ou da sua família.

Sua opinião tende a ser sempre a do "mas também". Sim, eles sofrem preconceito, mas também... a) procuram; b) dão pinta; c) são preconceituosos entre eles mesmos; d) não querem se arrepender de serem o que são.

Seu coração se sensibiliza com a dor, mas reluta em se libertar dos dogmas religiosos que insistem em condená-los ao inferno.

Os tempos de Moisés são ultrapassados demais para que aceitemos a poligamia (Deuteronômio 17:17; 21:15; Levítico 18:18) ou para que condenemos o camarão na nossa ceia (Levítico 11:10 a 12), mas incrível e paradoxalmente é super atual para os versículos que os tornam "fora da Lei", marginais, excluídos. Neste caso, Lei com L maiúsculo mesmo, porque trata-se da eterna e inquestionável Verdade Bíblica, a Palavra de Deus. E você evita debater o tema, confortando-se na sua roupa da moda de algodão e poliéster (Levítico 19:19).

Tudo bem, dá pra entender. Einstein dizia que é mais fácil quebrar um átomo que um preconceito. Por outro lado, o mesmo Einstein disse também, certa vez, não saber como seria a Terceira Guerra Mundial, mas que certamente a quarta seria com paus e pedras. Será o início da Quarta Guerra Mundial? Se for, certamente o início dela é aqui, no Brasil.

Tudo bem, dá pra entender. Com muito esforço, dá pra entender. A gente entende a ignorância. A gente entende que é a ignorância não entende a gente. É seu direito, dá pra entender.


Mas olha aqui! Só um minuto. Já que não custa nada, absolutamente nada, aprender mais um pouquinho, que tal você abrir mão da ignorância e se libertar das amarras do preconceito neste momento? Por uma causa nobre, muito nobre, tente entender.

É claro que o assunto é bastante complexo, polêmico, "complicado". Tá certo! 1 x 0 pra você! Existem detalhes, uma discussão enorme acerca da sopa de letrinhas, uma série de subdiscussões internas sobre o assunto, talvez complicadas demais para pessoas leigas como você. Mas para começo de conversa, acho que o que segue abaixo vale como introdução para este tema. Então, pra te ajudar a entender, entre outras coisas...






...é isso o que a gente quer dizer com HOMOFOBIA:










Jocivaldo Alves, travesti, 26 anos, Ubatã (BA)
Reinaldo Davino, travesti, Maceió (AL)

Walberty, travesti, 16 anos, Simões Filho (BA)

Alexandre Ivo, 14 anos, São Gonçalo (RJ)


Veja aqui mais imagens da epidemia do ódio no Brasil - Fonte: Grupo Gay da Bahia

Veja aqui a tabela dos assassinatos de LGBT's em 2010 - Fonte: Grupo Gay da Bahia



Se você é solidário(a) a esta causa, encaminhe o conteúdo desta postagem para seus amigos da sua lista de e-mail. Certamente alguém nela precisará ver o conteúdo desta mensagem.

PELO CASAMENTO CIVIL ESTENDIDO TAMBÉM AOS LGBT'S
PELA CASSAÇÃO DO DEPUTADO JAIR BOLSONARO
PELA CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA
PELO DIREITO DE AMAR QUEM QUISER
PELA APROVAÇÃO DO PLC 122/06

PELA LIBERDADE DE SER


PELA VIDA


 Léo Rossetti
Original do Blog Sai na Urina