sábado, 17 de novembro de 2012

Sobre sexo, santidade, moralismo e hipocrisia



 

Não tolerem os que tentam governar a vida de vocês, exigindo reverência e insistindo em que vocês se juntem a eles em sua obsessão por anjos e visões. É tudo conversa fiada. Eles não têm nenhum contato com a fonte da vida, Cristo, que nos reúne a todos numa única peça, e seu fôlego e seu sangue passam através de nós. Ele é a Cabeça; e nós, o corpo. Só teremos um crescimento saudável em Deus se ele nos nutrir. Assim, se com Cristo vocês deixaram para trás aquela religião pretensiosa e infantil, por que agora se permitem intimidar por ela? “Não toquem nisto! Não provem aquilo! Não cheguem perto daquilo!” — acham que essas coisas que hoje estão aqui e amanhã desaparecem são dignas de atenção? Ditas em voz alta, essas ordens podem
impressionar. Chegam a parecer religiosas, evocando humildade e sacrifício. Mas não passam de outra forma de autoprojeção, de parecer importante.   Colossenses 2:18-23 - Bíblia A Mensagem


  Sim, não sou político quando critico as permanências fundamentalistas de algumas lideranças das diversas igrejas inclusivas. Não tenho medo de cara feia, de bloqueios em redes sociais ou xingamentos via email. O discurso da Igreja Inclusiva, ao meu ver, em primeiríssimo lugar, deve buscar achar o que se havia perdido, dando preeminência às ovelhas perdidas da "casa de Israel". (Lucas 9:10; 15:24). E, em segundo lugar, deve combater profeticamente os discursos segregadores, opressores e excludentes, sejam eles advindos do mundo ou de dentro das igrejas, incluindo-se as pretensamente inclusivas.
     A gente critica, construtivamente, a quem amamos, assim como os profetas da antiga Aliança clamaram contra a opressão, a tirania e os desmandos das lideranças de Israel, sua pátria amada. 
     O moralismo, ou melhor, o falso moralismo, típico das igrejas fundamentalistas, também está presente no seio de algumas comunidades inclusivas, que, com um discurso aparentemente santificador, busca controlar as ações, os pensamentos, as atitudes, os comportamentos, enfim, as vidas de seus afiliados. (Colossenses 2:18,21).
     Moralismo nada tem a ver com santidade, que é um processo natural na vida de todo aquele que encontrou a Cristo e, que, a cada dia, de glória em glória, vai sendo transformado, até chegarmos todos juntos ao Dia Perfeito. (2 Co 2:3). Moralismo é discurso vazio. É discurso de quem quer parecer mais santo, mais puro e perfeito que os demais, mas que na realidade, esconde trevas e uma vida religiosa artificial. 
     A ênfase de nosso discurso está naquilo que mais nos tenta. Aliás, como diz o apóstolo Paulo, o mandamento, por causa do pecado que habita a nossa carne, nos induz ao pecado. (Romanos 7:11) Quanto mais listas de proibições eu fizer, e pregar, e ordenar que os outros obedeçam, tantas regras mais desta mesma lista eu quebrarei. 
     Tempos atrás, numa das pegadinhas do Programa Sílvio Santos, havia algo como se fosse um container, com um pequena janela, com uma placa onde se lia: "Não olhe". As pessoas passavam olhando, curiosas, e muitas foram olhar por tal buraco, de onde pulava uma mão, assustando as pessoas. Isso ilustra bem o que somos, todos nós, seres humanos, caídos em Adão, sujeitos ao pecado. Miseráveis homem e mulheres somos, totalmente depravados¹. (Romanos 15:24)
     A Igreja Inclusiva, chamada para ser uma Nova Reforma na Igreja de Jesus, simplesmente não quer saber de rever, de reler, de reconstruir a fé cristã. A maioria das comunidades não passam de repetições das igrejas fundamentalistas, com a única diferença de aceitarem os LGBTs. Por isso, por subscreverem este discurso falso, repleto de moralismo, que observamos as "quedas" públicas de inúmeros de seus membros.
     É o diácono que prega a  castidade, praticamente em todas as suas pregações, exposto ao ridículo publicamente por ser "viciado" em orgias. É o pastor ou o bispo, hiper moralistas, que traem seus respectivos companheiros. É a pastora, toda cheirosinha e bonitinha, que fuma maconha escondido. É o presbítero, casado, que contrata os serviços dos michês e garotos de programa. 
     Não foi uma, duas ou três vezes que já ouvi essas histórias, seja em aconselhamentos, seja em conversas informais. Os clubes de sexo, as saunas, as labirintos e as casas de sexo estão repletas de membros destas igrejas, incluindo aí as suas lideranças. O discurso não funciona.
     Tempos atrás recebemos em minha comunidade local um rapaz cuja pergunta principal era sobre sexo, sobre se era lícito ou não frequentar locais de "pegação" e afins. A minha resposta? Bem, disse a ele que, visto que era maior de idade, um homem feito, eu não poderia dizer para ele o que era certo ou errado, mas que todos os questionamentos sobre sexo fossem feitos diretamente por ele a Deus, que o responderia através da Palavra e do Espírito Santo. O rapaz não gostou da resposta e ainda disse que nós (a minha igreja) éramos permissivos. Tempos depois a bomba estourou e ficamos sabendo que o dito rapaz era um frenético frequentador de uma famosa rua de pegação no centro do Rio de Janeiro.
     Muitas das lideranças que foram "desmascaradas", tomaram do próprio veneno que produziram. Tentaram criar uma imagem e uma aura de "santidade" que jamais existiu, tendo então sido envergonhados publicamente. Muitos perderam a fé, outros têm pavor da palavra "Igreja Inclusiva" e, inclusive, fazem propaganda contrária a este nome.

     O moralismo não deve ser o foco de nosso discurso enquanto Igreja Inclusiva. Caio Fábio diz que parece que Satanás coloca lentes de aumento na genitália dos crentes, para que, mirando onde não deviam, esqueçam das coisas mais importantes. Somos mais que pênis, vaginas e ânus. 
     Ao invés de escrever livros que só tratam da temática sexual, num viés purista e burguês, por que não escrevemos sobre a Inclusão Radical, sobre ajuda aos necessitados, sobre uma nova ética, baseada no Evangelho, sobre oração, sobre uma nova vida para os que sofrem? Por que não clamamos por aqueles que estão sendo pisados pela bota do opressor? Por que não defendemos o direito do pobre, do órfão e da viúva? (Tiago 1:27)
     Quando falamos de sexo por que não somos honestos, por que não respeitamos as relações que não seguem o padrão heteronormativo e que possuem acordos próprios? Por que não falamos de AIDS e prevenção de maneira honesta, sem hipocrisia? Por que nossa ênfase está no sexo? Somos só sexo? Somos um bando de vaginas e pênis ambulantes? 
     Está na hora de crescer, parar com as proibições que só induzem à compulsão. Somos homens e mulheres, chamados para uma obra muito maior do que esta que estamos construindo. Repito: a missão da Igreja Inclusiva é reformar a Igreja de Jesus. A reformaremos repetindo as babaquices e as querelas das igrejas que se perderam na inutilidade de seus discursos fundamentalistas? 
     Queremos ser igrejas de fato inclusivas, ou clubes de lésbicas e gays crentes fundamentalistas? Até quando iremos expulsar o pecador ao invés de acolhê-lo? Até quando faremos do sexo os nossos ministérios?

     Igrejas Inclusivas, despertem para a urgência de nosso chamado!

     Diác. Luiz Gustavo

¹ A DEPRAVAÇÃO TOTAL é um dos cincos pontos da doutrina calvinista. Para os calvinistas todo homem e mulher são caído em Adão e submissos ao pecado. A escolha do pecador será sempre o pecado. Se não existir a intervenção divina, para o resgatar do pecado e o fazer escolher o bem, o homem morre em seus pecados, sem Deus e sem salvação.