domingo, 8 de novembro de 2009

O ESPETÁCULO DA FÉ






   Os maiores, os melhores, os mais conhecidos, os primeiros, os únicos... camarim, platéia, espectadores, espetacular, espetáculo! “Foi um sucesso de público!”, “não tinha mais lugar para as pessoas assistirem!”.
   Não, não é de um espetáculo de teatro ou de circo que eu estou falando. Poderia ser, mas não é. As bizarrices do circo? Sim, estão presentes. As luzes, a cena, a maquiagem e as máscaras do teatro? Sim, estão presentes. Mas estou falando de igrejas, não de teatro ou circo, se bem que é uma afronta aos artistas do circo e do teatro chamar a tais igrejas de casas de espetáculos. Mas é o que elas tem sido.
   Alguém já ouviu falar em “Show da Fé”, “Cultos Maravilhosos”? O que é isso em se tratando de igreja? Que sujeira capitalista é essa contaminando o culto da simplicidade dos pardais e dos lírios do campo?
   O que é ter “sucesso de público” quando está se falando de crentes, de gente sedenta da verdade, de filhos e filhas de Deus?
   O que é ser o maior, quando o “maior” deve ser o menor, o servidor, como a criança não-cidadã da era apostólica? (Mt 18:1-5)




   O que adianta as luzes direcionadas, as melodias mântricas, as cores estudadas do Templo para hipnotizar, facilitar o bitolamento e o emburrecimento do povo?
   Como perguntei, volto a perguntar: Em que lata de lixo lançaram o Evangelho, o da simplicidade que transforma a vida e que faz o mundo se reformar?
   Em 31 de Outubro celebramos 492 de Reforma Protestante. Tais igrejas sabem o que isso significa? Sabem pelo que lutaram Lutero e Calvino? Sabem que sangue inocente foi derramado para que a benção não fosse mais vendida, para que a prosperidade, a saúde, a riqueza não fossem oferecidas como produtos nas vitrines das pseudo-catedrais do consumo?
   Pro lixo com os ossos de Lutero e Calvino! Eles atrapalham o mercado da fé, o espetáculo circense da igreja, que se perdeu em meio à venda de si mesma ao mundo. Igrejas que surfam nas ondas do mercado, que oferecem os maiores atrativos aos seus consumidores, ludibriados com a ideologia perversa de exploração do mundo. Vende-se fé como se vende cocaína nos morros cariocas. Essa “fé”, que é depositada no que se pode conquistar e não no Deus Conquistador e Vencedor, é “fé” que cheira mal. Viciante. É ópio, anestesia para a realidade do mundo. Fuga das próprias misérias.
   E sabe quem compra? Miseráveis que negam sua própria miséria, que crêem num mundo inexistente, onde a sua própria miséria transmuta-se em vitória, “maravilha” e show.
   O cristianismo, Cristo, nos chama para fugir da espetaculosidade da vida, dos nossos próprios shows de mentiras, da fuga das nossas misérias. É reconhecendo a própria miserabilidade, despertando para a mesma, que se sai dela. Luzes, mantras, danças, cores, luxos e espetáculos anestésicos não nos tiram das nossas próprias misérias.
   E é da miséria do povo que tais igrejas sobrevivem. Mantendo uma ideologia perversa. Ideologia pervertida de gafanhotos migradores e cortadores, que limpam as carteiras dos que estão deixando-se corromper por tal ideologia.
   Enquanto isso, aproveitando-se da burrice e hipnose do povo, seus líderes enriquecem... Macedos, Soares, Hernandes, Terras-Novas e Silvas estão com suas contas bancárias abarrotadas, ganhando este mundo para si mesmos, com sua mente cauterizada pelo erro e aperfeiçoando mais e mais sua técnicas de enganação do povo que perece por falta de conhecimento, e que se ilude com as riquezas transitórias desse mundo.
   Show, nada mais do que Show, dos melhores, dos maiores e mais bem feitos... de dar inveja às mais tradicionais companhias de teatro do Brasil (será?). E nada de Evangelho! Pés descalços jamais, humildade? Nunca!
   Simplicidade, tal como a dos pardais? Pra quê? Isso não é vendável!
   E assim prossegue o eterno ciclo dos circos dos horrores evangélicos, enchendo-se cada vez mais, inchando e abrilhantando ainda mais as vaidades dos que querem provar que ainda são os melhores, maiores, e mais competentes, ainda que tudo isso seja mera ilusão, que o Senhor fará cair pelo sopro do seu Espírito.

   Que o Senhor, que rejeita o que o homem é por fora, mas sabe quem somos por dentro, de verdade, liberte o seu povo desse mercado da fé, dessa falácia que usa o nome de igreja cristã, mas que no fundo nada mais é que um grande supermercado, onde se compra de tudo, menos a benção do Deus Verdadeiro.

Amém.

Gustavo,
Servo.