Certa feita, fui questionado, por um
leitor revoltado, que a forma com a qual falava de Deus chocava, ou
no melhor jargão evangélico, escandalizava os cristãos não LGBTs,
a igreja e seus dogmas. Afinal, como eu poderia tornar tão banal um
versículo bíblico, dando a ele contornos sexuais, em um contexto em
que nada disso fazia sentido?
Era
questionado sobre o tema que usara para expressar a total entrega,
verdadeira, genuína, daqueles que têm fé no Cristo, movendo-se por
ele, para ele e com ele. O texto em questão é o da Segunda carta de
Paulo aos Coríntios: DEUS AMA AO QUE DÁ COM ALEGRIA (II Co 9,7)!
Interessante versículo que na boca de um gay conota perversidade aos
olhos alheios. Interessante o versículo que, profundo, inclusive, de
dimensões abrangentes à fé, mas que de forma tão conveniente,
tornou-se fórmula universal para arrecadar dízimos e ofertas.
Vivemos
em épocas de radicalismo, pessoas querem impor conceitos não pelos
argumentos lógicos, mas pela imposição da vontade, nesse tempo,
por óbvio, aquilo que sempre foi motivo de ódio polarizou-se,
impetrou sentença, não racional, mas o aforismo dos sentimentos de
destruição, a homofobia, engendrada no comportamento normativo
social, elegeu governantes que simplesmente bastaram se declarar
contrários, segundo eles, ao “homossexualismo”: essa escolha
pervertida e descarada de canalhas e abomináveis. Valdemort virou
herói, Satanás virou o messias!
Mas
é da segunda carta do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto que
nos vem a lição, Deus ama ao que dá com alegria. A oferta, na
ocasião, era para o auxílio de cristãos na Judeia e em Jerusalém,
mas isso é um dado inserido num contexto muito mais amplo. As
relações do apóstolo com a comunidade eram dificultosas, por
várias vezes Paulo tem que defender seu ministério entre os
corintos, entretanto isso não o impede de voltar seus olhos à fome
que assolou, no ano de 48 d.C., os cristãos dessas regiões
retromencionadas. A vivência do evangelho é vivência radical,
vive-se para o evangelho em alegria: conscientemente, com vontade de
viver e com liberdade em viver!
Neste
aspecto, aqui, apresentado, temos o chamado, a vocação, para o
amor. O próximo é aquele que mesmo inimigo íntimo (os samaritanos
dos judeus) é capaz de socorrer na dor, amparar e cuidar. “Ouvistes
o que foi dito, amaras aqueles que vos amam e odiaras aqueles que vos
odeiam, porém eu vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que
vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos
maltratam e vos perseguem… Pois, se amardes os que vos amam, que
galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?”
Em
tempos de radicalismo, Deus é amor! E somos chamados a dar nossa
vida a esse Deus, somos impelidos, em graça, a expressar Cristo, seu
evangelho ao mundo e tudo que é feito com liberdade, prazer e
consciência; tudo aquilo que não é pecado e que promove a si e o
outro em dignidade, igualdade, fraternidade, é amado por Deus. Sim,
Deus ama quem dá com alegria, quem mergulha por completo, por
inteiro, em uma causa não se entristecendo, com pesar ou servidão,
mas por liberdade de ser o que se é e fazer o que se faz.
As
doações em II Co 9,7 eram destinadas a uma causa nobre, não fala
de um ritual de oferta num culto qualquer, mas se referem ao
compromisso diário de amar, ainda que crucificados, ao compromisso
de não pagar o mal com o mal. Deus ama ao que dá com alegria,
estamos, de fato, preparados para dar?
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