quarta-feira, 29 de julho de 2009

Agosto, Mês de Festa para as Igrejas Inclusivas!

No mês de Agosto três comunidades inclusivas comemoram com atividades especiais seus aniversários. A Comunidade Nova Esperança -SP, a Igreja da Comunidade Metropolitana -SP e a Comunidade Betel - RJ celebram ao Senhor mais um ano de luta pela Inclusão da Comunidade LGBT. Parabéns à todos e todas!

Abaixo vídeo da Comunidade Betel RJ anunciando suas atividades festivas:

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Pambu Njila - Um Mito Africano ou "Cristão"?





Não tenho pudor nenhum em dizer que a igreja neo-pentecostal brasileira é um misto ritual de protestantismo impregnado de concepções umbandistas e candomblecistas. Isso está óbvio, explícito.

Quem é de origem neo-pentecostal já ouviu falar, com toda certeza, que a “Pomba Gira” é a responsável pela orientação sexual homossexual (no caso das lésbicas o responsável é algum “exu” masculino). Quantas vezes já ouvi, aqui em terras neo-pentecostais meritienses, das influências de “pombas-gira” e “exus” nas sexualidades, mostrando a influência da Umbanda na formação da teologia neo-pentecostal e até mesmo pentecostal.

Mas porque tal personagem mítico exerceria tanta influência na sexualidade, segundo os neo-pentecostais-umbandistas modernos?

Vamos analisar?

1. O Mito de Pambu-Njila

Os negros Bantu foram trazidos para o Brasil através do tráfico negreiro a partir do Século XVII. Os Bantu não formam um único povo, mas diversas tribos que habitavam Angola e a África central. Os Bantu foram trazidos para o Rio de Janeiro, em sua maioria, e para São Paulo e Espírito Santo. Não foram levados à Bahia, ao contrário do que alguns pensam, pois os negros baianos são de origem nigeriana. Migraram para a Bahia após rebeliões, criando lá alguns quilombos. Isso talvez explique o caldeirão de cultura negra na Bahia.

Mas eu quero me ater a um personagem da cultura e religião Bantu, Pambu-Njila, divindade intermediária entre os deuses (Nkisi) e os homens. É a divindade bantu mais parecida com os homens, ligada diretamente ao sexo, à fertilidade e à colheita. Pambu-Njila transita entre os sexos, e é meio humano e meio Nksi para os Bantu. É adorado e temido em Angola e em outras regiões (variando o seu nome: Esu, para os Yorubás e Legbara em Lagos, na Nigéria) com o formato de um grande falo, ou pênis.




É bom lembrar também que as divindades da África sub-saariana (assim como as divindades greco-romanas) não possuem caráter “santificatório”, de separação com o humano, o “baixo”, e nem mesmo são totalmente “boas” ou “más”, pois possuem características humanas, antropomórficas. A religiões africanas não possuem dualismo entre bem e mal, pois não sofrem a influência persa (zoroastrismo), como o Judaísmo e Cristianismo.

O que acontece com Pambu-Njila em terras brasileiras cristianizadas (e até mesmo em terras africanas em processo de “cristianização”)?

Dá pra imaginar! Então imaginemos juntos: Pambu-Nijla é uma criação mitológica dos Bantu, adorada em forma fálica, como dissemos, ou seja é um deu-pênis, ligado à fertilidade feminina, à sensualidade. É uma divindade mitológica com características humanas, sem a aura de santidade das religiões monoteístas. Os mitos africanos mostram Pambu-Njila nas encruzinhadas confundindo os viajantes [Pambu ou Mpambu, significa "encruzilhada"; e Njila siginifica "caminho", na língua Bantu], matando, criando confusão e intrigas, embebedando-se e fazendo muito, muito sexo. Com quem os missionários católicos vão o identificar quando em terras tupiniquins? Ora, claro, com o seu diabo medieval, com chifrinho e rabinho e tudo.

O processo de “cristianização” também se deu nas religiões de origem africana no Brasil, de modo que o antigo mito fálico e masculino (embora transitante entre os sexos) africano tornou-se, no início do século XX, na Umbanda sincrética brasileira, em “Pomba Gira”. Desta vez não mais um Nkisi tribal, mas um demônio feminino “cristão”, sim “cristão”, ligado ao sexo e todas as suas perversões: prostituição, adultério, pornografia e, claro, “homossexualismo”, como não poderia deixar de ser.

Foi assim que a “Pomba-Gira” deixou seu antigo lugar de culto como a divindade Pambu-Njila, que só queria pequenas porções de farofa (Ypadê) e ganhou lugar nos púlpitos neo-evangélicos e neo-cristãos, dando entrevistas nas redes de TV brasileiras, com mãozinhas para trás, rosnante e sempre disposta a responder à pergunta: “O que você faz na vida dele ?” e ela responde: “Eu o transformei em homossexual, Yahahahaaa!”

Se perguntar a uma dúzia de neo-cristãos, de algum “ministério” sobre a influência da Pomba-Gira na vida das pessoas, pegue uma caderneta e uma caneta e comece a anotar os dados da teologia-cristã-umbandista, dados empíricos, “revelados” nas manifestações da própria Pomba-Gira nos “cultos” “cristãos” (?)

Dia desses, dentro do metrô, conversando com um amigo, oriundo de uma igreja neo-inclusiva (é tanto neo pra minha mente!), ele me relatou da manifestação de uma “Pomba-Gira” em uma reunião da Igreja, apontando o dedo para as pessoas e dizendo que todos eram infiéis, pois ela sabia de tudo. Eu, assustadíssimo, e ele continuando o papo, me relatou de um ex-pastor de uma mega-igreja neo-pentecostal (IURD?), que presenciava reuniões fechadas de pastores, onde o “Bispo” cantava um “ponto de Pomba-Gira” para que a digníssima se apresentasse corporeamente em algum deles para contar e apontar os que estavam em pecado!

Assim testemunhamos o nascimento de uma coisa que, de forma alguma, poderia ser chamada cristianismo.

O que São Lutero e São Calvino diriam da Pomba-Gira? É uma pergunta que sempre me faço! Vou procurar nas Institutas! Juro!

Não sou antropólogo e ainda também não sou historiador formado (ainda), e tentei resgatar, de maneira ainda amadora, um pouco das origens deste ser mitológico, de seu processo de demonização e porque não de “cristianização”, através do sincretismo religioso, afinal as igrejas que crêem nas forças sobrenaturais da “Pomba-Gira” são as mesmas que acreditam (?) num Deus Único. Será?

Como cientista dá pra entender o que a sociedade judaico-cristã empreendeu à cultura negra, desprendendo-a de todo o seu significado original e demonizando-a por completo, e isso é lamentável. Por outro lado, como cristão, protestante e calvinista, é lastimável ver o caminho que o cristianismo protestante (?) tupiniquim vem percorrendo, sobretudo nos últimos 30 anos.

Dizer que o neo-cristianismo brasileiro é monoteísta (adorador de um só Deus) é pura ilusão. No mínimo eu o identificaria com um tipo de politeísmo monolátrico, ou seja, uma religião cheia de divindades, eternamente conflitantes entre si, e numa eterna luta de poderes entre bem e mal (maniqueísmo), cujo “deus” dominante é uma cópia do Jesus dos Evangelhos, mas apenas cópia.

Será que teremos o privilégio de reviver alguns Luteros e Calvinos em nossa geração, para tentar dar um jeito nessa babel religiosa chamada “igreja evangélica” em terras tupiniquins? Até quando a “Pomba-Gira” e seus auxiliares farão parte do culto “evangélico”? (Nada contra a religião afro-brasileira, mas creio que tal divindade os pertença e não à cosmologia cristã)

A cada “entrevista” com o esses personagens folclóricos e mitológicos nos programas de TV evangélicos eu não sei se choro ou rio. Às vezes acho que é melhor rir pra não sofrer, mas noutras vezes creio que seja melhor não me dar esta oportunidade, como se estivesse sendo cúmplice da balbúrdia neo-louca que roubou até os mitos dos povos negros, os demonizou, alterou e os entronizou nos pseudo-cultos evangélicos.

Tenho certeza que se tivéssemos a oportunidade de voltar no tempo e trazer um Bantu, para assistir a um IURD-culto, ele não identificaria seu deus-falo nas neuróticas, psicossomáticas e esquizofrênicas apresentações das modernas “Pombas-Giras” evangélicas.

Peço ao Senhor, não que nos livre das “Pombas-Giras”, que só existem na mente envenenada do povo que perece por falta de conhecimento, mas que nos livre de quem as entronizou nos púlpitos, trazendo junto com elas todo preconceito contra os marginalizados (prostitutas e nós homossexuais), que segundo eles, são frutos de sua influência.

Quem dera que as míticas “Pombas-Giras” voltassem para o seu lugar de origem: os cultos afro-brasileiros, e deixassem o culto evangélico novamente devotado a um só Deus: O Deus trino, que governa todas as coisas pela palavra do seu poder.

Triste influência e corrupção dos neo-evangélicos, neo-pentecostais e neo-cristãos... Triste!

Diác. Luiz Gustavo.



* Fonte teórica dos mitos de origem de "Pambu Njila": Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo, da Universidade de Londrina. Mestre em Literaturas afro-brasileiras e Doutorado em literaturas africanas de Língua Portuguesa. www.ritosdeangola.com.br

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A BÍBLIA SEM PRECONCEITOS...





Hoje, 16 de Julho de 2009, fui assistir ao Seminário “A Bíblia sem Preconceitos”, na minha Universidade (UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro), com Palestra do Rev. Marcos Gladstone, da Igreja Cristã Contemporânea, Marcelo Natividade, antropólogo daquela instituição e do Prof. André Senna, do Dep. de História.

Quem me conhece sabe das minhas divergências e dificuldades em relação à teologia do Pr. Marcos, que a meu ver altera a concepção original, histórica, de Igreja Inclusiva, abarcando dentro do pacote doutrinas neo-pentecostais anti-históricas, tais como a teologia da prosperidade, a quebra de maldição, a autoridade espiritual, além de um pseudo puritanismo sexual extremado.

Mas a questão aqui não são as minhas divergências teológico-partidárias com o Pr. Marcos, mas o tremendo impacto que tive com o Seminário. Não exatamente com o seminário em si, que no todo foi positivo, embora creia eu, que o Pr. Marcos necessite de uma preparação teológica maior para encarar audiências como aquela; mas, o que me impactou negativamente foram as manifestações extremadas de homofobia naquele lugar. Foi realmente assustador, e diante de atos como os que presenciei quaisquer divergências de partido ficam em segundo plano.

Pra começar, logo que foi dada a oportunidade da assistência se manifestar, levantou-se um rapaz, Guilherme, “assembleiano roxo”, segundo palavras do próprio, com o dedo em riste, bradando ao máximo de sua voz, citando apocalipse e condenando ao inferno “adoradores de imagem” [palavras dele] e os que praticam “promiscuidade sexual”, que segundo o mesmo, contém a “prática” homossexual. No fim de seu monólogo, Guilherme, ainda alterado, diz que não considera o Rev. Marcos um pastor, mas um herege!

Pensei que a segurança daquela instituição fosse agir naquele momento, em vista de tamanho desrespeito. Mas o que foi feito foi um posicionamento do Prof. Senna, muito emotivo e pouco científico a meu ver, e do próprio pastor.

O que se viu em seguida foi um bando de declarações homofóbicas e infantis, do tipo que já conhecemos: “Deus criou Adão e Eva, e não Adão e Ivo”, de pessoas que se comportavam como se estivessem numa arena e não num ambiente acadêmico.

A cada declaração “cristã”-homofóbica uma menina, nos fundos do auditório, gritava como se estivesse na Assembléia de Deus da Penha: “Amém!”, “Glória a Deus” e afins...

A agitação era tanta e tantas as mãos levantadas para expressar sua homofobia naquele auditório lotado, que derrepente, a mesma menina dos “aleluias”, do fim do auditório, no meio de uma fala do Prof. Senna sobre as origens históricas do moderno homoerotismo, bradou: “O seminário é sobre a Bíblia sem preconceitos e vocês estão enrolando...”

Creio que vocês possam se colocar no meu lugar e sentir a tristeza que senti, uma enorme vontade de chorar diante de tamanha ignorância, de tanto desrespeito dentro de uma Instituição consagrada e reconhecida no mundo inteiro como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Os comentários que ouvi de onde estava sentado me deixavam cada vez mais desconfortável. Como negar a existência real da homofobia, mesmo dentro do ambiente acadêmico? Como negar ser a Igreja a mãe desse bando de lunáticos robotizados para o desrespeito e desamor?

Ao fim fui dar meus cumprimentos ao Pastor Marcos, deixando claro para o mesmo que, apesar de todas as nossas diferenças, enormes diferenças, eu estava em oração por ele, e como não estaria?

Saí dali e fui pra casa, e em todo caminho, dentro do metrô, meus olhos em todo instante se enchiam d’água e de tristeza. Mas eu creio no Deus que nos chamou, e quando digo isso incluo todas as igrejas e ministérios inclusivos, para lutar exatamente contra esse mar de ódio e intolerância persistentes nessa nação. Lutar para não permitir que nenhuma alma mais se perca através do suicídio, consciente ou inconsciente, ou pela falta de amor de si próprio.

O Senhor nos chamou, entre tantos outros, ele nos chamou, mesmo diante de nossa incapacidade e limitação, foi a nós que Ele chamou. E o que nós faremos com esse chamado? O que faremos pelas vidas dos que estão se perdendo com a mensagem de morte da igreja do status quo?

A resposta está dentro de cada um de nós, cabe a cada um pensar e decidir-se pela morte, pregada pela Igreja, ou pela Vida, que advém da Vida.

Que o Senhor Jesus nos dê as armas de Paz necessárias para este combate, e nos dê forças para não desistirmos no Caminho.


Triste, porém alegre
E Caminhando sempre...


Gustavo,
Servo.