domingo, 20 de maio de 2012

"Marcha para Jesus" ou para Malafaia?

     


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     Ontem, 19 de Maio de 2012, reuniu-se no centro da cidade do Rio de Janeiro, a chamada Marcha para Jesus, organizada pelo sr. Silas Malafaia. Eram cem mil pessoas, segundo a Polícia Militar, que estavam ali "em favor da liberdade de expressão, da vida, da liberdade religiosa e da família tradicional." Segundo o sr. Malafaia, este ano a Marcha ganhou novos objetivos: “Estamos introduzindo nela são as posições que acreditamos. Antigamente ela era apenas uma marcha profética para abençoar a cidade”, explicou o líder religioso.¹
     Durante toda a duração da Marcha, Malafaia, esbravejava contra o PLC 122 (projeto de lei que visa a criminalizar a homofobia), acusando os LGBTs de quererem instaurar uma "ditadura gay" no Brasil, com o intuito de calar a "maioria cristã".
     Malafaia acusa lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros de serem o grupo mais intolerante da pós-modernidade, e afirma que "uma minoria não pode decidir os rumos da maioria cristã do país".
     Numa espécie de teoria da conspiração moderna, Malafaia ensina aos seus seguidores que os LGBTs querem tomar o poder no país, com uma estratégia que visa a transformar o mundo em um lugar onde não mais existirão diferenças sexuais, onde todos serão "pervertidos". 
     Recentemente lançou por sua editora a "obra" A Estratégia - o planos dos homossexuais para transformar a sociedade, de Louis P. Sheldon, que difunde este pensamento. Sheldon afirma que os homossexuais possuem um "plano diabólico para destruir o ser humano."
     Querendo entender mais um pouco como pensa Silas Malafaia basta ler seus artigos em seu site pessoal, ou no site de sua Igreja, uma dissidência das Assembleias de Deus. Ele não esconde o que pensa e, com muita voracidade tem pregado, insistentemente, contra as pessoas LGBTs.
     Malafaia, intitulado "pastor" por um segmento dentro do pentecostalismo, é na realidade um fascista e, como todo fascista, um covarde. Descobriu uma forma de ganhar dinheiro fácil, endossando o discurso dos grupos ultraconservadores da evangelicalismo no Brasil, sobretudo entre os neopentecostais.
     A igreja evangélica ainda não se deu conta do problema chamado Silas Malafaia, ou se percebeu, como fez na ditadura militar brasileira, se calou covardemente. Este senhor representa a propagação de um anti-cristianismo, baseado no ódio e na intolerância contra grupo específico, nós lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
     O discurso de ódio não provém somente de Malafaia, ele é um tótem, um baluarte do pensamento conservador, reacionário e segregacionista. Há  suporte para o seu pensamento. Mas, como tótem,  Malafaia descobriu uma maneira confortável para voar de avião, hospedar-se nos melhores hóteis do Brasil, e andar nos melhores carros.
     Há enormes similaridades entre o pensamento nazi-fascista de Adolf Hitler e de Silas Malafaia. Aquele elegeu grupos como bode expiatório de seu ódio (judeus, ciganoos, testemunhas-de-jeová, homossexuais e outras minorias), como forma de identificar um "inimigo" comum e forjar a "unidade" alemã. Este, Malafaia, aos moldes de seu pai intelectual, faz algo semelhante. Identificou um "inimigo" comum aos neopentecostais fundamentalistas, os LGBTs, e a estes coloca como bode expiatório de seu ódio doentio.
     Malafaia sabe que seu discurso produz o ódio, tem consciência disso, mas nega, afirmando que está amparado pela Constituição Brasileira, que lhe garante liberdade de expressão. Todo LGBT que cai morto vítima da homofobia, filha do pensamento fundamentalista religioso, é vítima, de alguma forma, do discurso fascista de Silas Malafaia.
     A Marcha para Jesus tornou-se uma marcha do ódio, da intolerância, da morte. Malafaia é um portador da mensagem de morte. O direito que ele deseja não é o de liberdade para se expressar, mas liberdade para matar, sim matar! Pois o ódio produz morte, assim como o amor produz a vida. 
     O discurso de ódio de Silas Malafaia nada tem a ver com o Evangelho de Jesus Cristo. A Marcha para Jesus é, na realidade, uma Marcha para Silas Malafaia, ou seja, para o ódio fascista, encubado nas mentalidades conservadoras e reacionárias.
     Ao contrário de nós, LGBTs, Malafaia e seu discurso possuem muita força. Possuem Programas de TV, emissoras de rádio, imprensa e editoras. Possuem uma bancada parlamentar com mais de sessenta representantes. Possuem dinheiro, ou seja, poder. Quem está ganhando com isso? O que ganha a sociedade brasileira, conhecida pela sua tolerância religiosa, com o discurso preconceituoso dos fundamentalistas ligados à Silas Malafaia? 
     Ninguém ganha nada, e uma minoria perde. Os LGBTs tem tido seus direitos negados, sua dignidade ferida, para incrementar o ego doente dos fundamentalistas religiosos, sedentos por poder, ou seja, por dinheiro.
     Os fundamentalistas não marcham para o Senhor Jesus Cristo! Marcham, unidos a Satanás, e a Malafaia, claro, rumo ao poder, assim como os nazistas o fizeram no século passado.
     Temo, realmente temo. Eles não chegarão ao poder, já estão lá, e fazem estragos no Estado Laico brasileiro. Campos de concentração, sim eles desejam! Desejam clínicas para a "recuperação" de gays e lésbicas e, por isso, lutam contra o Conselho Federal de Psicologia, que proibe seus associados de realizarem qualquer tentativa de reversão de sexualidade, uma vez que isto é uma impossibilidade.
     Temo, temo os maus, mas ainda acredito na força dos bons.
     Jesus venceu a morte e o mundo derrubou os nazistas do poder. Ainda há esperanças contra este avanço da morte nos campos brasileiros. Os profetas ainda sobrevivem, e mesmo sem poder, continuarão a denunciar esta perversão, que se utiliza do Evangelho de Jesus, o adultera pelo ódio, na busca insana pelo poder.
     Nós não nos calaremos, ainda que tenhamos que pagar com a prória vida.

     Heil, Silas!

     Diác. Luiz Gustavo.