sábado, 23 de outubro de 2010

LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO DE MÁRCIO RETAMERO: "PODE A BÍBLIA INCLUIR?"

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Carta aberta da ABGLT as candidaturas de Dilma Roussef e José Serra



Prezada  Dilma e  Prezado Serra,



A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, é uma entidade que congrega 237 organizações da sociedade civil em todos Estados do Brasil. Tem como missão a promoção da cidadania e defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, contribuindo para a construção de uma democracia sem quaisquer formas de discriminação, afirmando a livre orientação sexual e identidades de gênero.



Assim sendo, nos dirigimos a ambas as candidaturas à Presidência da República para pedir respeito: respeito à democracia, respeito à cidadania de todos e de todas, respeito à diversidade sexual, respeito à pluralidade cultural e religiosa.



Respeito aos direitos humanos e, principalmente, respeito à laicidade do Estado, à separação entre religião e esfera pública, e à garantia da divisão dos Poderes, de tal modo que o Executivo não interfira no Legislativo ou Judiciário, e vice-versa, conforme estabelece o artigo 2º da Constituição Federal:  “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”



Nos últimos dias, temos assistido, perplexos, à instrumentalização de sentimentos religiosos e concepções moralistas na disputa eleitoral.



Não é aceitável que o preconceito, o machismo e a homofobia sejam estimulados por discursos de alguns grupos fundamentalistas e ganhem espaço privilegiado em plena campanha presidencial.



O Estado brasileiro é laico. O avanço da democracia brasileira é que tem nos permitido pautar, nos últimos anos, os direitos civis dos homossexuais e combater a homofobia. Também tem nos permitido realizar a promoção da autonomia das mulheres e combater o machismo, entre os demais avanços alcançados.  O progresso não pode parar.



Por isso, causa extrema preocupação constatar a tentativa de utilização da fé de milhões de brasileiros e brasileiras para influir no resultado das eleições presidenciais que vivenciamos. Nos últimos dias, ficou clara a inescrupulosa disposição de determinados grupos conservadores da sociedade a disseminar o ódio na política em nome de supostos valores religiosos. Não podemos aceitar esta tentativa de utilização do medo como orientador de nossos processos políticos. Não podemos aceitar que nosso processo eleitoral seja confundido com uma escolha de posicionamentos religiosos de candidatos e eleitores. Não podemos aceitar que estimulem o ódio entre nosso povo.



O que o movimento LGBT e o movimento de mulheres defendem é apenas e tão somente o respeito à democracia, aos direitos civis, à autonomia individual. Queremos ter o direito à igualdade proclamada pela Constituição Federal, queremos ter nossos direitos civis, queremos o reconhecimento dos nossos direitos humanos. Nossa pauta passa, portanto, entre outras questões, pelo imediato reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo e pela criminalização da discriminação e da violência homofóbica.



Cara Dilma e  Caro Serra



Por favor, voltem a conduzir o debate para o campo das ideias e do confronto programático, sem ataques pessoais, sem alimentar intrigas e boatos.



Nós da ABGLT sabemos que o núcleo das diferenças entre vocês (e entre PT e PSDB) não está na defesa dos direitos da população LGBT ou na visão de que o aborto é um problema de saúde pública.



Candidato Serra: o senhor, como ministro da saúde, implantou uma política progressista de combate à epidemia do HIV/Aids e normatizou o aborto legal no SUS. Aquele governo federal que o senhor integrou também elaborou os Programas Nacionais de Direitos Humanos I e II, que já contemplavam questões dos direitos humanos das pessoas LGBT. Como prefeito e governador, o senhor criou as Coordenadorias da Diversidade Sexual, esteve na Parada LGBT de São Paulo e apoiou diversas iniciativas em favor da população LGBT.



Candidata Dilma: a senhora ajudou a coordenar o governo que mais fez pela população LGBT, que criou o programa Brasil sem Homofobia, e o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, com diversas ações. A senhora assinou, junto com o presidente Lula, o decreto de Convocação da I Conferência LGBT do mundo. A senhora já disse, inúmeras vezes, que o aborto é uma questão de saúde pública e não uma questão de polícia.



Portanto, candidatos, não maculem suas biografias e trajetórias. Não neguem seu passado de luta contra o obscurantismo.



A ABGLT acredita na democracia, e num país onde caibam todos seus 190 milhões de habitantes e não apenas a parcela que quer impor suas ideias baseadas numa única visão de mundo. Vivemos num país da diversidade e da pluralidade.



É hora de retomar o debate de propostas para políticas de governo e de Estado, que possam contribuir para o avanço da nação brasileira, incluindo a segurança pública, a educação, a saúde, a cultura, o emprego, a distribuição de renda, a economia, o acesso a políticas públicas para todos e todas!





Eleições 2010, segundo turno, em 15 de outubro de 2010.



ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

domingo, 3 de outubro de 2010

Não Voto em Evangélico

Daqui a algumas horas decidiremos o futuro político do nosso país. Neste domingo, 03 de outubro de 2010, cerca de 135 milhões de brasileiros e brasileiras se destinarão às suas respectivas zonas de meretrício eleitoral. E eu não farei diferente. Irei lá dar a minha apertadinha. Meter o dedo, por assim dizer. E meu critério que há tempos venho professando pelas minhas redes sociais é não votar em evangélico.

E vocês, leitores e leitoras, não fazem ideia do tamanho da polêmica que criei quando ousei postar isso no subtítulo do MSN e no status do orkut. Através do MSN, dois ex-alunos e um colega (ou ex-colega) de teatro vieram me criticar, posto que são evangélicos. Um amigo gay surpreendentemente me abordou por este mensageiro dizendo estar estupefato com minha simples frase. Apenas um único amigo, também do teatro, viu a frase de maneira positiva. Pelo orkut choveram críticas, e todas elas muito pouco originais pois caíam sobre a mesma assertiva: isto é preconceito.

Por isso decidi escrever esta postagem. Não em tom de satisfação, porque a essa altura da vida não preciso bater cabeça pra nenhum mentor político. O voto de cabresto já se passou há muito! Minhas convicções políticas não precisam se explicar; o mundo que se contente em aceitá-las ou não aceitá-las. Escrevo em tom de resposta, quiçá de provocação.

Não vou aqui fazer a linha "politicamente correto", não. Quer achar que a frase é preconceituosa!? Que ache! Que seja preconceituosa, então. Mas o galhardão do meu voto, esse grupinho evangelouco não vai ter mesmo. E tenho muitos motivos para não dar o meu voto para os "irmãos" em Cristo. Quais sejam, são criticáveis. Mas não pretendo mudá-los até a hora de votar, para a infelicidade dos crentes.

Primeiramente, antes que me perguntem por que diabos eu não voto em evangélico, eu reformularei a pergunta: Por que eu devo votar em evangélico? Por que são bonzinhos? Será isso? Por que possuem bons valores? Talvez os bons valores em reais que se amontoam nos cofres não confiados ao fisco, que a cada dia engordam mais com as somas de dízimos e ofertas de um povo que barganha o pão de cada dia, de um povo até inocente em sua fé, ingênuo na vida espiritual. Por que eu devo votar em evangélico? É preciso mesmo ser evangélico para ser leal, honesto, bom caráter, digno? Eu não vejo, a princípio, nenhum motivo que me leve à necessidade de votar exclusivamente em evangélico. Não vejo nada neste povo que mereça a exclusividade do meu voto. Então, antes de qualquer coisa, não desacredito nos bons valores evangelicais e sei que existem excelentes pessoas que são evangélicas. Mas acredito que existem também excelentes pessoas umbandistas, ateias, budistas, bahai's, agnósticas, católicas, hindus, xintoístas etc.

O meu problema não é o evangélico em si (na verdade, é também! rs rs rs... mas não para esta questão, em outro momento falo sobre isso! ), mas o evangélico candidato. O político evangélico. Aí, ao meu ver, está a desgraça. A desgraça política, esclareça-se. Porque acredito que a Graça do Senhor é pra todos e todas. Até para o evangélico. Certa vez me perguntaram: "e se você não souber que o candidato é evangélico!?". Bom, neste caso eu acho ótimo. E, na minha consciência, não estarei votando em evangélico. Portanto estou sendo coerente, assim como o(a) candidato(a), que usou da coerência e do bom senso e não declarou publicamente a sua fé.

E qual o problema em declarar a fé evangélica? Bom, em se tratando de política, um problema grande! Não tenho base teórica para provar isto, mas desafio aos que discordarem que me provem cientificamente se estou errado: evangélicos tem tesão em votar em outros evangélicos. Eu me pergunto: "Senhor, por que!? Tu deste o cérebro, o que estão fazendo com ele? Perdoai, Senhor, porque eles não sabem o que fazem". E a coisa é tão alarmante que se torna óbvio votar em outro evangélico. Dia desses eu vi numa igreja supermeganeopentecostal aqui perto de casa um banner de três metros de altura de um candidato ao lado daquele pastor da toalhinha... (aliás, que toalha imunda e fedorenta deve ser, não? higiene zero!). No banner, o pastor pedia votos para o dito cujo. Mas como assim? Se por muito menos o próprio Jesus desceu o barraco em Jerusalém, imagina se o Homem volta e encontra essa politicagem em Sua Casa!

O argumento dos fiéis é que precisam eleger pessoas de Deus pro Congresso. Bom, tudo bem. Mas assim... por que o Marcelo Crivella, por exemplo, que é acusado de crime contra o Sistema Financeiro e falsidade ideológica é considerado "de Deus" e o Zé das Couves, mandingueiro lá do interior do Ceará, não é? A gente nasce com uma etiqueta dizendo Made by God? E, se a princípio Ele é o Criador, por acaso não criou o Marcelo Crivella, o Zé das Couves, você, eu, e todos os que habitam este planeta!? Que história é essa que Fulano é de Deus!? Posso supor então que há quem não seja de Deus... e que, por acaso - apenas por acaso - é alguém que não faz parte da coligação partidária do pastor-candidato. Hummmm... muito suspeito!

Olha, pra ser bastante sincero eu acho que os evangélicos podem se candidatar. É direito! Mas os de boa índole, que não participam deste jogo sujo da política e agem mediante os interesses da coletividade (e não de uma classe restrita de cidadãos do Reino de Deus), sinceramente não deveriam sequer manifestar publicamente (em programas eleitorais, em santinhos, em folhetos) que pertencem a uma determinada religião. Se a religião é pessoal, e se o projeto é para todos, qual a razão para dizer que é cristão ou cristã, da igreja tal ou qual? Com certeza não é para ganhar pontinhos no Céu; há interesse político aí! Pra mim isto é muito claro...


Não vou mais titubear e serei breve. Quero finalizar esta postagem ainda hoje! Os dois últimos e maiores motivos que me levam a não votar em evangélicos são:


* tcham * tcham * tcham * tcham *


Evangélicos querem "converter" o Congresso inteiro! Evangélicos acham que a missão deles é converter o mundo! Evangélicos acham que pregar o Evangelho é "conseguir almas" para Deus, como se a tarefa de "converter" lhes coubesse, e não a Deus. Acaso não é Cristo quem escolhe os seus? Mas o medo do inferno é tão grande que é preciso registrar uma a uma as almas que foram "convertidas" ao Senhor. E, se assim é, convém colocar nas pautas políticas, nos assuntos do Povo, nas leis e nas cadeiras do Plenário pessoas que também comunguem deste ideal, pessoas que também busquem dominar o mundo... "em Cristo"! E nisto a laicidade do Estado vai por água abaixo... O Estado Brasileiro é laico. Ou pelo menos deveria ser. E eu me recuso a votar em pessoas entendem a laicidade do Estado como o estado diabólico do Estado. Estado laico não significa que o Estado é do diabo. Apenas não é de Deus. E não tem que ser mesmo. De nenhum deus. E tenho certeza Ele entende muito bem que religião não deve se assentar sobre a Casa de Leis. E quer saber? Acho que Ele prefere assim. Tanta desgraça já se fez quando a religião se assentou sobre a Lei!


Por fim, ainda há um motivo bem razoável para não votar em evangélico: as propostas políticas não me contemplam. Não se engane! Porque os evangélicos-candidatos não estão se enganando. Eles estão muito bem articulados e possuem claramente um projeto de poder que se articula diretamente com as propostas defendidas ou repudiadas por eles. Por exemplo, a questão do casamento homossexual é um tema que vem despertando a ira dos religiosos. nos debates políticos. Segundo eles, esta união abalaria a "família", como se homossexuais não tivessem e não formassem famílias. Como se existisse apenas um modelo de família, aquela do comercial de margarina que não existe há muito no Brasil. Ou você realmente acha que a família brasileira é assim, todos brancos, louros, reunidos em torno de uma mesa farta, pai e mãe, dois filhos limpos e sorridentes, em uma casa incrivelmente asseada e a felicidade estampada em cada olhar?


Ora, ora... a família margarina dos evangélicos é a minoria no Brasil. Nós, brasileiros, somos da família dos sem pais, onde os filhos são criados pelas avós, ou são deixados nas ruas para aprenderem a ser malabaristas nos sinais de trânsito e a ser palhaços na estrada da vida. A família brasileira é aquela chefiada por mulheres, porque o homem "cabeça" da casa abandonou a família, se é que um dia a conheceu. A família brasileira mal tem o que comer, mal tem o que vestir, e se arranja sem cerimônia de casamento. Nossa família é a família do jeitinho, que se equilibra entre as regras estabelecidas pra poder sobreviver. E ninguém usa a Bíblia pra poder dizer que a poligamia é bíblica ou que a liderança feminina da família não está na Lei de Moisés, sendo, portanto, uma abominação. Mas quando se trata da união de dois homens ou duas mulheres, imediatamente lembram do Livro Sagrado, quando, na verdade, não deveriam lembrar, já que a união não é religiosa, mas civil.



A crítica à descriminalização do aborto é outro prato cheio dos evangélicos-candidatos, e é também algo que também não me contempla. Não porque eu não seja mulher, mas porque não contempla meu modo de pensar a vida. Vejo malediscência quando este debate chega à mídia através destes programas religiosos de TV, atacando pessoas que são "a favor do aborto". Ora, a questão não é ser a favor ou contra o aborto, mas a favor ou contra descriminalizar a atitude de mulheres que recorrem a esta prática. Quem não faz aborto continuará não fazendo. Assim como quem não gosta de cigarro não passa a gostar simplesmente porque é lícito. Mas se a mulher precisar fazer este procedimento, que não recorra a clínicas clandestinas que lucram milhões com a ilegalidade. A ideia da descriminalização do aborto é simplesmente controlar uma prática que já existe. Não se trata de incentivar! Trata-se de impedir a morte de milhares de mulheres. Mas sabe por que isto não é relevante para os evangélicos? Porque mulher e lixo se confundem deste que o mundo é mundo. Para a grande maioria dos religiosos, lugar de mulher é abaixo do homem. E não se surpreendam: se homem pudesse engravidar, o aborto não apenas estaria descriminalizado, mas já seria obrigatório.
 
Léo Rossetti
Original do Blog www.sainaurina.blogspot.com